Filagregord: Uma nova visão do Império Filatélico do Brasil



                                                                                                            


                                                                                                                                O Brasil Filatélico

 
     Estudos e Historias da Filatélia brasileira:
                  
                      
 
  Os Olhos-de-Boi



I-) Pequena Historia


 
  • A coleção filatélica do Império do Brasil, contém diversos tipos de selos : Os Regulares, Comemorativos, Jornaes, Telegramas, Inteiros Postais Bilhetes Postais, As cinderellas (Vinhetas, fiscais etc...) e outros. Estes podem se encontrar sobre diversas formas sendo entre elas : Os multiplos, selos sobre cartas, as provas, ensaios sem falar da pré-filatelia.
 
  • A reforma dos correios foi feita e elaborada a partir do decreto de lei n°243, de 30 de Novembro de 1841, artigo 17.
 
  • No dia 1° de agosto de 1843 entrava em circulação a primeira emissão postal brasileira que teve a pitoresca denominação de Olhos de Boi, devido a sua semelhança com os olhos destes animais. Ficou assim conhecido internacionalmente.
 
  • Com uma emissão prevista de 8 milhões de exemplares, porém impressos de fato apenas 3 milhões, os Olhos-de-Boi tiveram sua impressão suspensa no final do mesmo ano sendo que deste total, quase 500 mil não chegaram a ser vendidos.
 
  • Segundo pais do mundo e o primeiro das Américas a adotar o selo postal, o Brasil deve seu pioneirismo ao Imperador D. Pedro II, que sensivel às idéias inovadoras, soube vislumbrar naquele pequeno pedaço de papel recém criado na Inglaterra, uma conquista que marcaria de forma definitiva os destinos dos correios em âmbito universal.
 
  • Os Olhos-de-Boi foram impressos em folhas de 54 selos com todos os três valores na mesma folha, e também em folhas de 60 selos para os selos de 30 e 60 réis. Nas folhas de 54 selos existiam linhas horizontais de separação dos valores. Selos com essas linhas são mais raros.
 
  • A série Olho-de-Boi circulou entre 1843 e 1844. Os selos de 90 réis eram destinados apenas às correspondências internacionais, o que os tornariam mais raros e disputados por filatelistas no futuro. O Olho-de-Boi de 30 Réis deveria ter uma primeira impressão de 6.000.000 unidades, porém sua tiragem final foi de 1.148.994, com remessas para Porto Alegre (31/08), para a província do Espírito Santo (06/09), para São Paulo (14/09) e para Minas Gerais (25/09). O Olho-de-Boi de 60 Réis teve como tiragem final 1.502.142 de selos e o de 90 Réis teve 349.182 selos. A Bahia foi a província que recebeu o maior número de selos: 61.000 de 60 Réis; 24.000 de 30 Réis e 18.000 de 90 réis.
 
  • Por estes motivos os selos de 90 Réis são mais faceis de serem encontrados no estrangeiro, e ao inverso os selos de pequeno valor no Brasil e na América do Sul.


A ultima data de uso dos Olhos-de-Boi é em 1854 na cidade de Cuiaba. São conhecidos exemplares com carimbo de primeiro dia ou seja : 1° de Agosto de 1843.



IA-)  As tiragens dos Olhos-de-Boi e o Frete desta época:



Foram emitidos em 3 valores:


 
VALORES IMPRESSOS INCINERADOS POSTOS à VENDA
30 REIS 1.148.994 292.377 856.617
60 REIS 1.502.142 116.277 1.335.865
90 REIS 349.182 8.057 341.125



Durante muito tempo me perguntei:


Como saber
se o valor de porte de uma carta corresponde?
No começo procurei informaçoes e não foi na RHM que encontrei estas, pois quando não temos em mãos os velhos numeros deste famozo e grande catalogo brasileiro, tudo fica dificil de se encontrar e as duvidas perduram.
Quando consegui encontrar enfim num velho artigo de jornal brasileiro, o frete da época
, percebi a qual ponto os estudos perduram mais e mais e que so a perseverencia recompensa o verdadeiro filatelista estudioso. Digo isso, pois o frete da época eram em "oitavas".
Uma resposta
, outra duvida: O que é oitavas? E como calcular e compeender o frete da época?
Sorte minha nem tudo é sempre complicado na filatelia brasileira.

 Coloco abaixo então uma tabela que espero ajudara os outros colecionadores Imperiais a fazer seus estudos.



Enfim, do que se trata a medida de peso “oitavas”, utilizada em Portugal e também no Brasil Império ???

"Importante não confundir o peso de medida “oitavas”, com o imposto “oitavas”, utilizada no Brasil Colônia, introduzida pelo então governador Braz Baltazar da Silveira, na data de 1713, onde, a Monarquia, passava a cobrar impostos, além do “quinto”, as chamadas “taxas de entrada”. O Rei supunha estar sendo enganado, sonegação na extração do ouro, e, para garantir o “quinto”, cobravam-se, também, dez “oitavas” de ouro por bâtea.
Enfim, o peso de medida “oitavas” refere-se a oitava parte de uma “onça”, na conversão de medidas eqüivale a 28,3495 gramas."

- Teremos a seguinte tabela de porte:



 
Frete em "Oitavas" * do Império brasileiro

 
Peso Terra Mar
Não excedente à 4 oitavas - (14,17gramas) 60 Réis 120 Réis
de 4 à 6 oitavas - (14,17 à 21,26 gramas) 90 Réis 180 Réis
de 6 à 8 oitavas - (21,26 à 28,34 gramas) 120 Réis 240 Réis
A cada 2 oitavas à mais se ajuta ao total 30 Réis 30 Réis
O que fica por exemplo para 10 oitavas: 150 Réis 270 Réis
 


                    * "A única obra consultada, que trouxe aos olhos dos leitores alguma luz referente ao assunto, foi o Livro Selos Postais no Mundo, Sergio Marques da Silva, 1995, pgs. 113/118, no capítulo “O início do selo postal no Brasil”, mencionando unicamente que “4 oitavas correspondia a mais ou menos 15 gramas”. (Trecho tirado do Boletim Informativo da SPP de 2001)



II-) As Caractéristicas dos Olhos de Boi



Os selos Olhos de Boi foram gravados em matrices de aço e transferidos para chapas de cobre na Casa da Moeda. Estes selos foram impressos na Oficina de Estamparia das Apolices. Sem denteação e gomados. Eles foram emitidos em talho-doce.

Os três selos foram impressos em uma unica folha de 54 selos ao total ou seja 18 selos de cada valor (Os chamados Xifopagos). Posteriormente os valores de (30 e 60 Réis), foram impressos separadamente em folhas de 60 selos. Nas folhas de 60 selos não aviam divisões, ja nas de 54 ou seja nos Xifopagos estas divisões existiam.
Os Xifopagos ou seja uma tira com valores de Olhos de boi diferentes e os semi-xifopagos ou seja os selos tirados e separados destas tiras representam uma variedade hoje muito rara. (Emitidos em Chapas compostas).


São conhecidos poucos exemplares:



II A-) Os Xifopagos


 
Os Olhos de Boi foram impressos em folhas de 54 selos (30, 60 e 90 réis) ou seja 18 selos de cada valor facial e em folhas de 60 selos (30 e 60 réis) ou seja 20 selos de cada valor facial. Das folhas de 54 selos surgem os xifópagos, bem como os semi-xifópagos. As linhas horizontais de separação dos valores indicam que os selos são provenientes das folhas de 54 selos e por essa razão temos o que chamamos de semi-xifópagos. Isto significa que os selos que apresentam estas linhas, poderiam ser xifópagos, se eles não tivessem sido separados dos outros selos da folha.



1-) Um par vertical com os valores: 30 e 60 Réis e um carimbo à pena.


Historia e caminho deste excepcional par:


Primeiro Período – 1843 a 1911:



A seção filatélica “GAZETILHA TIMBROLÓGICA”, assinada por Thomé de Saboya, do periódico “BRASIL POSTAL 4”, de Outubro de 1890, do Rio de Janeiro, afirma que o Sr. Isidoro Moscoso, residente no Estado da Bahia, era o proprietário de uma “curiosidade postal”, descrita como: “consistindo em dois selos do Brasil, da emissão de 1843, grandes algarismos de 30 e 60 réis, impressos na mesma folha”.
Esta é a primeira referência sobre a existência deste par “se-tenant”. De 1890 até 1897, esta peça permaneceu na obscuridade, apesar da menção apenas parcial de 1890.
Exatamente um mês depois da primeira notícia sobre a descoberta do “Pack Strip”, ou seja, 1 de Novembro de 1897, um artigo foi publicado, no “Jornal Philatelico”, em São Paulo, páginas 181 e 182, sob o título de “Curiosidade”, onde dizia textualmente: “como o que foi dito pelo Sr. Bernardo Alves Pinheiro, sobre as emissões dos Olhos-de-Boi, um outro par existe além do já noticiado...”. Referia-se ao “Pack Strip” como já noticiado. De 1897 até 1911 o “PAR XIFÓPAGO” retornou para a obscuridade.
O uso da palavra “PAR” para ambas as peças pode ser facilmente explicado: ambas as peças têm o “par” como previamente denotado, sendo 30 + 60, embora o “Pack Strip” tenha um segundo 30 réis do Olho-de-Boi. Nos dias de hoje, no Brasil, para diferenciar ambas as peças, são assim denominadas: “O Par Xifópago” e “O Terno Xifópago”.


 

Segundo Período: 1911 a 1918:


O Stanley Gibbons Monthly Journal, de 30 de setembro de 1911, publicou a relação dos premiados na Exposição Filatélica de Viena, realizada no período entre os dias 7 e 17 de setembro de 1911. Entre os agraciados estava o Sr. Charles Lathrop Pack, distinguido com uma Medalha de Ouro Grande, pela apresentação de uma coleção de selos do Brasil. Mencionava, também, uma relação das peças por ele ali apresentadas, quais sejam: uma folha dos Olhos-de-Boi do 90rs; um bloco de 8 dos Olhos-de-Boi de 60rs e um par vertical dos Olhos-de-Boi de 30rs e 60rs.
Nada foi dito se as peças filatélicas eram novas ou usadas. Mais ainda, não foi possível apurar por quais valores o Sr. Pack adquiriu tais raridades e nem as datas das compras.


 

Terceiro Período: 1918 a 1920:


Em 1918 o “PAR XIFÓPAGO” foi adquirido pelo Sr. Heitor Sanchez. Em carta datada de 29 de Julho de 1965 e dirigida ao Sr. Áureo G. Santos ele relata toda a história da sua compra. Não menciona de quem comprou, porém diz textualmente: “Adquiri esta peça no balcão da ‘Casa Filatélica J. Dolz’ de minha propriedade, na rua Barão de Itapetininga 69, juntamente com mais alguns selos do Brasil Império, pela soma de 200$000 (duzentos mil réis), valor este que tomei emprestado de uma vizinha, Sra. Hortênsia, proprietária de uma loja de coletes para senhoras. O selo de 30 réis tinha um grande rasgo no canto superior direito, alcançando quase um quarto do selo”. O valor acima representava FFR 570,00 (quinhentos e setenta francos franceses) ao câmbio da época.
É bastante plausível que o Sr. Pack tenha decidido vender o par xifópago, pois era defeituoso e tinha adquirido uma nova e linda peça da filatelia brasileira: o Terno Xifópago.
O Sr. Sanchez adiciona: “Vi a necessidade de enviar o selo para a Inglaterra, para F.B.Turpin, para ser restaurado. ...Imediatamente depois de receber a peça para ser restaurada o Sr. Turpin enviou um telegrama pedindo o preço pela peça. Minha resposta não foi outra que negativa. Não estava interessando em vendê-la. Quando o par retornou restaurado, vendi-o para um estimado amigo meu e o mais importante colecionador daquele tempo de São Paulo, Dr. Arnaldo Moraes Pedroso, pela importância de 600$000 (seiscentos mil réis)”. Valor este, à época, equivalente a US$ 420 (quatrocentos e vinte dólares americanos).
O Sr. Sanchez prossegue em sua história: “Infelizmente meu estimado amigo, Sr. Pedroso, inesperadamente perdeu toda a sua fortuna nas mesas de jogo e foi obrigado a vender todos os importantes selos de sua coleção para satisfazer seus débitos. Não estando em condições financeiras para comprá-los, sugeri ao meu amigo que vendesse os selos em leilão e com sua aprovação fui designado para preparar e organizar todo o leilão”.
O “PAR XIFÓPAGO” foi oferecido como o lote número 23, no leilão da Casa Filatélica J. Dolz, em 12 de Junho de 1920. O catálogo tinha trinta e duas páginas, sendo dezesseis de textos descritivos e outras dezesseis páginas mostrando fotografias de todas as peças a serem leiloadas. Foram relacionadas 114 peças brasileiras e 33 peças estrangeiras, todas de propriedade do Sr. Pedroso.
A descrição explicitava: “Lote 23 – 30 e 60 réis, números 1 e 2 ‘se-tenant’. O único exemplar conhecido. O selo de 30 réis foi restaurado no canto superior direito”.
O par foi vendido pelo valor de um 1:000$000 (um milhão de réis, ou seja, um conto de réis), na época eram FFR 2.850 (dois mil, oitocentos e cinqüenta francos franceses) ou US$ 720 (setecentos dólares), para o mais proeminente colecionador brasileiro daquele tempo, Luiz de Moraes Júnior, do Rio de Janeiro.


 

Quarto Período – 1920 a 1954:


O Sr. Moraes Júnior nasceu em Portugal e era um homem de negócios, construtor de casas e prédios no Rio de Janeiro. O “PAR XIFÓPAGO” permaneceu em sua propriedade por trinta e quatro anos. Foi mostrado pela primeira vez na Exposição Filatélica Nacional, realizada no Rio de Janeiro, em 1934.
O “Brasil Filatélico” edição de junho de 1946, à página 66, publicou um anúncio do negociante de selos A. Pereira da Silva, radicado no Rio de Janeiro, no qual ofertava para venda o “par” e mostrava a fotografia. O anúncio dizia na íntegra: “Colecionadores de selos do Brasil! Preparai-vos para a Exposição Filatélica Internacional de New York, em maio de 1947. Eis a oportunidade que vos ofereço. Os dois valores, 30 e 60 réis juntos! Apenas dois exemplares conhecidos! Para maiores informações e preço queiram dirigir-se à A. Pereira da Silva, Caixa Postal 2741 – Rio de Janeiro”. Ao que parece o Sr. Morais autorizara a venda da peça e o Sr. Pereira da Silva estava atuando como intermediário. O negócio não prosperou.
O Sr. Morais sempre recebeu inúmeras ofertas para vender o “par”. Nunca aceitou. Ele era bastante conhecido por não aceitar pagamentos em cheques. Em 12 de dezembro de 1954, em Petrópolis, cidade situada perto do Rio de Janeiro, o negociante filatélico Rolf Harald Meyer, de São Paulo, depois de três semanas de muito esforço de argumentação, conseguiu comprar o “PAR XIFÓPAGO” pelo valor de Cr$200.000,00 (duzentos mil cruzeiros), equivalentes a US$ 3.000 (três mil dólares). Este foi o preço pedido pelo Sr. Moraes Júnior e era considerado acima do preço de mercado da época. Afirma-se que o Sr. Meyer sem pestanejar tirou o dinheiro do bolso e pagou a vista.
Poucos meses depois de vender tão importante raridade o Sr. Moraes faleceu.


 

Quinto Período – 1954 a 1972:


O “PAR” permaneceu na propriedade do Sr. Meyer de Dezembro de 1954 a Março de 1955. Conversei com o Sr. Meyer, por telefone, em Março de 2002 e ele disse: “que a referida peça foi vendida de imediato ao Sr. Ivo Ferreira da Costa, médico e fazendeiro, residente em Alegrete, Rio Grande do Sul, ainda em dezembro de 1954, pelo valor de Cr$250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil cruzeiros)”, equivalentes a US$ 3.750 (três mil e setecentos e cinqüenta dólares).
Continuou ele: “E que de fato o Sr. da Costa comprara e pagara o ”Xifópago” em dezembro de 1954, porém fizeram um acordo que a peça somente seria entregue em abril de 1955, pois era sua intenção, por não ser ainda um comerciante muito conhecido, fazer publicidade da aquisição para divulgar sua capacidade financeira de fazer negócio com selos”.
O Dr. Ferreira da Costa informou, através de carta datada de 26 de Julho de 1965, dirigida ao Sr. Áureo G. Santos, que comprara o “par” em 21 de Dezembro de 1954 e confirmou o preço pago.
O Sr. da Costa apresentou sua coleção, pela primeira vez, na PHILYMPIA’70, realizada em Londres, de 18 a 26 de Setembro de 1970, onde obteve uma Medalha de Ouro Grande. Era a estréia desta raridade no circuito internacional de exposições. Seguiu-se a LUBRAPEX’70, no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 31 de Outubro de 1970, onde obteve a Medalha de Ouro Grande e o Grande Prêmio LUBRAPEX. A seguir sua coleção foi exposta em Caracas, Venezuela, na EXPHILCA’70, realizada entre os dias 27 de Novembro e 6 de Dezembro de 1970, onde recebeu a Medalha de Ouro Grande e o Prêmio Especial “Presidente da República da Venezuela”.


 

Sexto Período – 1972 a 1997:


O Sr. da Costa vendeu sua coleção completa ao Sr. Maurino de Araújo Ferreira, mineiro, publicitário e dono de Agência de Propaganda, em 29 de Janeiro de 1972. O Sr. Araújo Ferreira foi pessoalmente a Alegrete e comprou, pela soma total de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), equivalentes a US$ 90.000 (noventa mil dólares), a coleção completa do Império do Brasil do Sr. Ferreira da Costa. Anos mais tarde, o Sr. Araújo Ferreira disse que o “PAR XIFÓPAGO” fora avaliado, durante a transação comercial, pelo valor de Cr$130.000,00 (cento e trinta mil cruzeiros), equivalentes a US$ 23.300 (vinte e três mil e trezentos dólares) e que ele decidiu pagar o valor pedido. Foi a mais importante venda privada realizada no Brasil até aquela data.
A coleção do Sr. Maurino Ferreira recebeu as seguintes premiações: EXFILBRA72 - Brazil – Medalha de Ouro Grande e O Grande Prêmio Nacional; LUBRAPEX72 - Portugal – Medalha de Ouro Grande e o Grande Prêmio LUBRAPEX; IBRA MUNCHEN73 - Germany – Medalha de Ouro Grande; ESPAÑA75 - Espanha – Medalha de Ouro Grande e o Grande Prêmio America Honour; ARPHILA75 - França – Medalha de Ouro Grande e o Grande Prêmio The Four Continents”; LONDON80 - Inglaterra – Classe de Honra.
Em 1975 o Sr. Maurino Ferreira declarou que se viu obrigado a vender um terreno em Brasília para poder estar em posição de comprar a coleção completa do Sr. Ivo Ferreira da Costa. Disse também que o mercado avaliara o par em Cr$ 80.000,00 (oitenta mil cruzeiros) e que o vendedor pedira muito mais. Era muito caro, mas mesmo assim, ele decidiu pagar. Muitos de seus competidores internacionais durante os leilões filatélicos costumavam dizer: “Não se pode enfrentar o Maurino! O Homem não lhe dá a menor chance... Ele tem sido sempre um capeta!”.
O Sr. Araújo Ferreira morreu em 1991. A família decidiu vender o “PAR XIFÓPAGO” em um leilão internacional e a empresa escolhida foi a Christie’s de Nova York. O Leilão realizou-se em 15 de Novembro de 1994 e esta raridade foi relacionada como o lote número 2120, com um preço de reserva de US$175.000 (cento e setenta e cinco mil dólares) apesar de no catálogo constar a expressão “sob consulta”. Estive presente ao leilão na qualidade de tradutor do representante da família. Iniciado o leilão, via telefone, foi feita uma oferta firme no valor de US$135.000 (cento e trinta e cinco mil dólares) por um importante colecionador de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o Sr. Orestes M. Cruz, que não foi aceito pela família do Sr. Araújo Ferreira.
Um par de anos posteriores, em 1996, outra casa de negócios filatélicos, sediada em Londres, foi escolhida pela família para cuidar da venda do “PAR XIFÓPAGO” – Antonio Torres. O leilão foi realizado em 11 de Outubro, e o “par” foi relacionado como lote número 3013 e o catálogo explicitava o valor estimado entre US$125.000 e US$175.000 (cento e vinte e cinco e cento e setenta e cinco mil dólares). Uma vez mais esta raridade não foi vendida através de leilão público.


 

Sétimo Período – 1997 a 2001


No final do ano de 1997 o Sr. Antonio Torres, vendeu em nome da família Ferreira o “PAR XIFÓPAGO”, diretamente, para um colecionador brasileiro, morador do Rio de Janeiro, Sr. Roberto Seabra Benevides. O negócio foi feito na base de troca de material. O Sr. Torres recebeu uma importante coleção de Macau e o Sr. Benevides o “Xifópago” e mais várias peças do Brasil Império de Olhos-de-Boi e Inclinados. Nenhum detalhe do negócio foi divulgado, entretanto é dito que a avaliação do “Xifópago” alcançou a cifra de US$150.000 (cento e cinqüenta mil dólares) para um total de negócio no valor de US$250.000 (duzentos e cinqüenta mil dólares).
O Sr. Roberto Benevides expôs apenas uma vez sua coleção “Brasil: Primeiras Emissões”, e foi na LUBRAPEX’2000, de caráter binacional, onde obteve o Grande Prêmio da Exposição. Estando presente pude verificar que não apresentou nesta exposição o “Par Xifópago” e nem a “Folha dos Olhos de Boi de 60 réis”, já nesta época, ambas as peças de sua propriedade.
Durante minha longa estada em Houston, final do ano de 2001, tomei conhecimento da entrega feita pelo Sr. Roberto Benevides de toda sua coleção “Brasil: Primeiras Emissões” ao Sr. Antonio Torres, negociante e leiloeiro, radicado em Londres, para vendê-la. O Sr. Torres produziu e confeccionou um belo e exclusivo catálogo, todo a cores, e anunciava o negócio, para o outono de 2001, como de “Trato Privado”, estando ali incluídos as seguintes raridades brasileiras: o “Par Xifópago”, a “Folha Completa de 60 selos dos Olhos de Boi de 60 réis”, quadra nova do 30 réis (somente 3 conhecidas), carta do Rio de Janeiro para a cidade de Rio Grande com uma tira horizontal de 4 selos do 60 réis, carta do Rio de Janeiro para Cachoeira (RS) com uma tira horizontal de 4 selos do 60 réis + um 30 réis isolado e um painel completo do selo de 90 réis (18 selos – 6x3) obliterado com carimbos de “Cidade de Nicteroy. Entre os Inclinados pudemos notar: um bloco obliterado de 6 selos (3x2) do 180 réis, uma tira vertical nova de 3 selos do 300 réis, Bloco de 6 (2x3) obliterado do 600 réis, além de uma quadra obliterada e uma tira vertical nova de 4 selos do 600 réis (maior múltiplo conhecido). Realmente um impressionante acervo. De valores, o catálogo nada mencionava.


 

Oitavo Período – a partir de 2002:


Em conversas filatélicas com comerciantes locais, colecionadores e expositores internacionais concluiu-se que no valor entre um milhão e um milhão e duzentos mil dólares o negócio poderia ser fechado. Consultado pessoalmente por telefone o Sr. Torres escusou-se em me dar detalhes sobre essa transação. Apenas mencionou que era um negócio liquidado e que não ocupava mais o seu tempo.
Por esta última afirmação pode-se depreender que o “PAR XIFÓPAGO” deixou o Brasil pela primeira vez, após ter permanecido em mãos de brasileiros por mais de cem anos. Comenta-se, no mercado filatélico internacional, que toda a coleção foi vendida ao mais importante colecionador espanhol da atualidade, Sr. Luiz Alemany, detentor de centenas de medalhas de ouro e ouro grande e possuidor de mais de quarenta coleções de nível FIP, pela importância de US$ 1.200.000 (um milhão e duzentos mil dólares). Comenta-se também que o “Xifópago” foi avaliado nessa transação pelo valor de US$ 200.000 (duzentos mil dólares).




Imagem desta peça unica:


Descrição:


Selos de 30 e 60 réis - Olhos-de-Boi - em par vertical “se-tenant”, da segunda chapa composta, Estado B (chapa regravada). O 30rs está localizado na posição 18 do painel superior e o 60rs na posição 6 do painel intermediário. Margens grandes, mostrando ambas as linhas divisórias externas e a linha horizontal que divide os painéis. O 30rs não é obliterado e o 60rs tem uma obliteração manuscrita à esquerda. O 30rs foi restaurado.

Como pode se ver os Xifopagos e os Sémi-Xifopagos se diferenciam dos normais por estas tres linhas que separam cada enquadramento dos Olhos-de-Boi.



                             







Principais Fontes: Senhor Paulo Comelli e A filatélia Brasileira (Fefibra).



2-) Um terno vertical com os valores: 30, 30, 60 Réis Carimbado.



Historia de um terno unico:



O Terno, nos anos trinta, recebeu a denominação de Pack’s Strip em razão de ter permanecido na propriedade do renomado filatelista Charles Lathrop Pack, que lhe deu fama. Esta alcunha foi dada pelos meios filatélicos de língua inglesa e significa a ‘Tira do Pack’. Posteriormente, o ‘s’ foi retirado, adquirindo a forma final de ‘Pack Strip’.



Primeiro Período – 1843 a 1900


O Terno Xifópago permaneceu na obscuridade por pouco mais de cinqüenta anos. Em 1897, o Jornal Philatelico, editado em São Paulo, de propriedade de M. Copenhagen, relativo ao mês Outubro, apresentou um artigo do Sr. Thadeu Rangel Pestana intitulado ‘Um Erro (?) Desconhecido do Brasil’. É a primeira referência sobre a existência do Terno.
O Sr. Pestana, na época, era presidente do Clube Filatélico de São Paulo e já autor de uma vintena de artigos filatélicos. Dizia ele em trechos do artigo: “Temos hoje o prazer de dar aos nossos leitores ocasião de conhecer uma das maiores raridades da coleção do Brasil, senão a maior até hoje conhecida. Ao nosso particular amigo e distinto colecionador do Rio de Janeiro, Sr. José I. Pereira Lima devemos a amabilidade da oferta da fotografia desta raridade que aqui reproduzimos. Vêem os leitores que trata-se de dois selos de olho-de-boi de 30 ligados a um de 60 réis. Podemos garantir que os três selos são autênticos e que são impressos no mesmo papel, não havendo emendas nem outro qualquer artifício”.
Prossegue ele ao final do artigo: “O feliz possuidor desta preciosa jóia filatélica é o Sr. Carl Johan Lindgren, brasileiro de origem sueca, antigamente residente na Bahia e hoje no Rio de Janeiro. Possui o Sr. Lindgren uma magnífica coleção contendo muitas raridades... É o mais distinto colecionador do nosso País, que jazia desconhecido talvez como tantos outros ainda existam”.
Era conhecido nos meios filatélicos por Charles (ou Chas.) J. Lindgren. Nascido na Bahia (Salvador), em 23 de Dezembro de 1846, foi, como seu pai, Vice-Cônsul da Suécia e Noruega na capital da Província da Bahia. Faleceu no Rio de Janeiro em 14 de Janeiro de 1916.
No mês seguinte ao da divulgação do Sr. Pestana, o mesmo periódico, a edição de Novembro, publicou um artigo do Sr. Bernardo Alves Pereira, datado de 22 de Outubro de 1897, sob o mesmo título. Trecho: “...vi o original: dois selos de 30 réis e um selo de 60 réis unidos no sentido vertical, todos impressos na mesma folha de papel,.... Não se trata pois de um erro...”.



Segundo Período – 1900 a 1906


Em 1900, a revista O Philatelista Paulistano, órgão da Associação Filatélica do Brasil, edição de julho/setembro, editada em São Paulo, noticiava: “O Sr. Felizardo Teixeira de Figueiredo nos comunica ter efetuado a venda de um interessante e raro terno de selos de 1843, sendo dois exemplares do selo de 30 réis e um selo de 60 réis, impressos conjuntamente na mesma folha e obliterados pelo correio. Esta bela raridade foi adjudicada pelo preço de 2:000$000 (dois contos de réis)”. Cerca de US$ 800,00 (oitocentos dólares) ao câmbio da época.
O Sr. Felizardo de Figueiredo era o mais importante comerciante filatélico daquele tempo no Rio de Janeiro e obteve a notoriedade de ser a casa filatélica que tinha as mais raras e bonitas peças do Brasil. Estava sediada na rua Sete de Setembro, quase esquina do Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes.
A revista não informou o nome do vendedor e nem do comprador. Entretanto, em 1963, o Sr. A. G. Santos procurou o Sr. Alfredo Costa, dono da Filatélica J. Costa e filho do Sr. J. Costa, antigo proprietário e autor de uma notícia publicada no O PHILATELISTA, datada de 15 de agosto de 1908, no qual afirmava que “o terno teria sido admirado na exposição de selos raros que se realizou ultimamente na França...”. Citava ainda que eram duas as peças admiradas na França, a segunda era um bloco usado de 15 selos do 600 réis da série dos Inclinados. O Sr. J. Costa ao se referir sobre uma exposição ultimamente realizada na França pode ter cometido um engano quanto às datas, pois na verdade, a tal exposição na França ocorrera, em Paris, mas no ano de 1907.
O Sr. Alfredo Costa informou ainda que “o comprador teria sido um filho do Barão de Itacurussá, cujo nome não mais se lembrava e que depois falecera de tuberculose pulmonar e que residia no Rio de Janeiro”. Apurou-se que o Barão, com grandeza, de Itacurussá (1889) era Manuel Miguel Martins (1831-1911), homem riquíssimo, proprietário de terras e capitalista do Rio de Janeiro. Sua esposa era a baronesa Jerônima Elisa de Mesquita Martins, filha do conde de Mesquita e neta do marquês de Bomfim. O Barão foi o grande comprador do Leilão do Paço Imperial, onde além de muitas preciosidades, adquiriu todo o serviço de porcelana do casamento de D. Pedro I e D. Amélia de Leuchtemburg. Seu filho, além de exímio flautista, importante filatelista de seu tempo e o comprador do Terno Xifópago chamava-se José de Mesquita Martins (1874-1916), nascido no Rio de Janeiro e falecido em Lisboa, aos 42 anos de idade.



Terceiro Período – 1906 a 1916


Durante uma reunião do Collectors Club de Nova York realizada em Março de 1932, especialmente dedicada aos selos da primeira emissão postal do Brasil, o Sr. Charles J. Phillips (que entre Outubro1909 e Fevereiro de 1910 fizera uma viagem ao Brasil para pesquisas filatélicas visando atualizar o já famoso Catálogo de Selos Universais e comprara cerca de quinhentos mil selos brasileiros para a Casa Stanley Gibbons, da qual era um dos proprietários), participante da mesma reunião, escreveu um artigo a respeito, que foi publicado, na revista da mencionada agremiação filatélica, em abril de 1932. Trechos traduzidos: ...pois que a coleção do Sr. Pack possui uma tira vertical de dois selos de 30 réis, um espaço em branco, e um selo de 60 réis,...”. Prosseguindo afirma o Sr. Phillips: “...que viu essa peça mais ou menos há 25 anos atrás com seu amigo Theo Lemaire, da Av. Ópera, em Paris. O Sr. Lemaire vendeu essa peça de raro valor filatélico ao Sr. Jorge E. Rodriguez, radicado em Buenos Aires...”, e “...quando essa coleção foi dividida em 1916, veio ter nas mãos do Sr. Pack, famoso colecionador...”.
Mais ou menos há vinte e cinco anos atrás, corresponde, mais ou menos ao ano de 1907, quando essa peça foi vista nas mãos do Sr. Lemaire, editor e negociante francês de selos, localizado na 16 Avenue de l’Opéra. A explicação para essa peça ter aparecido na França pode estar na combinação das histórias contadas por J. Costa e Antônio Pereira da Silva, senão vejamos: J. Costa dizia em um trecho de seu artigo: “Segundo estamos informados, tempos depois o referido filatelista, desgostoso com a moléstia que foi acometido, fez doação da sua magnífica coleção, na qual dispensou mais de quatrocentos contos de réis aos frades do Castelo. Estes ignorantes do valor dos exemplares que encerrava a referida coleção distribuíram ou venderam a baixo preço tudo que ela encerrava. Eis aí, porque aquelas raridades foram aparecer em Paris”.
E a história contada pelo Sr. Antônio Pereira da Silva, no Brasil Filatélico, nº 163, de Dezembro de 1971, onde em determinado trecho de suas ‘Recordações Filatélicas’, falando sobre o início do Século XX, afirma: “...eu passei a parar na porta da casa de Felizardo Figueiredo, na rua Sete de Setembro quase esquina da Praça Tiradentes, onde olhava o que só os milionários podiam comprar como por exemplo o filho do Barão de Itacurussá, seu maior freguês, cuja coleção foi mais tarde doada a uma irmandade religiosa da França”.
O significado da expressão mais tarde pode ser exatamente por volta de 1906 e por certo na referida doação o Terno Xifópago estava incluído. É de se supor que os frades do Castelo pertenciam à mesma ordem religiosa da França, citada por Pereira da Silva, e para lá enviaram a totalidade da coleção doada ou parte dela. O certo é que o Sr. Lemaire comprou em 1906, ou talvez no início de 1907, essa peça da tal ordem religiosa da França, pois o Terno Xifópago fora mostrado em uma exposição em meados de 1907 na França. Mais ainda, em uma exposição de caráter internacional, realizada em Paris entre os dias 21 a 30 de junho de 1913, o Sr. Jorge Rodriguez obteve o Grande Prêmio da Exposição, um vaso de Sèvres, oferta do Presidente da França. Esta coleção ocupava uma grande sala e a revista L’Écho de la Timbrologie referindo-se a essa coleção afirmava: “...a coleção premiada era composta exclusivamente de selos novos de diversos paises”. O texto completo da notícia publicada no São Paulo Philatelico, de agosto de 1913, descreve vários dos selos mostrados, mas não faz menção alguma à participação do Terno na coleção do Sr. Rodriguez.
A informação dada pelo Sr. Phillips, que esta peça tenha pertencido ao Sr. Rodriguez, carece de fundamento. É provável, senão quase certo, que tenha cometido um engano, pois como dito linhas acima o Sr. Rodriguez era colecionador apenas e tão somente de selos novos. Mais ainda, para corroborar de modo definitivo que houve um engano do Sr. Phillips encontrei publicado no Stanley Gibbons Monthly Journal, de 30 de outubro de 1911, página 15, em artigo assinado pelo Sr. Pierre Mahé, por cortesia do Sr. T.H. Lemaire, a relação dos filatelistas premiados na Exposição Filatélica de Buenos Aires, realizada entre o dia 28 de agosto e 9 de setembro de 1911.
O nome do Sr. Theo Lemaire consta como expositor e, inclusive, é mencionada a relação de algumas da peças por ele expostas: um bloco de 4 usado do 300rs Inclinados; um bloco de 4 novo do 600rs Inclinados; um bloco de 15 obliterado à pena do 600rs Inclinados e o terno vertical de 30rs, 30rs e 60rs.
É evidente e bastante provável que todas estas peças, já que as duas últimas pertenceram, ora em poder do Sr. Lemaire, tenham pertencido ao acervo do Sr. Mesquita Martins e doadas aos padres franceses.



Quarto Período – 1916 a 1944:


Em 1916, segundo Charles J. Phillips, a coleção do Sr. Rodriguez foi retalhada e vendida, quando então o TERNO XIFÓPAGO de Olhos-de-Boi passou a pertencer ao colecionador norte-americano Charles Lathrop Pack. Na verdade, o terno foi vendido diretamente pelo Sr. Lemaire ao Sr. Pack e com ele permaneceu durante 28 anos. Em suas mãos essa bela raridade mundial obteve fama e prestígio mundiais.
Em 1944, o Brasil Filatélico, edição do mês de setembro, na face interna da última capa, publicou um anúncio da casa de leilões Harmer, Rooke & Co sobre um leilão a ser realizado em Nova York. Eis o texto: “Grande Leilão, em 4 de Dezembro de 1944 da célebre coleção de C. L. Pack... Harmer, Rooke têm o orgulho de anunciar a venda em leilão desta famosa coleção mundial avaliada em US$500.000 dólares (dez milhões de cruzeiros)... O conjunto de Argentina, Brasil e Espanha contêm diversas peças únicas. Magníficos Rivadávias. Brasil primeira e segunda emissões, inclusive uma tira de olhos-de-boi dos valores de 30, 30 e 60”.
O Pack Strip foi leiloado no dia 8 de Dezembro de 1944 e estava catalogado como o lote número 824. Estava explicitado no catálogo: “Selos raros da coleção do finado Charles Lathrop Pack a serem vendidos por autorização dos atuais proprietários Srs. Arthur N e Randolph G. Pack. – Lote 824 – 30, 30 e 60 réis. Tira com 3 selos. Os dois selos de cima de 30 réis e o de baixo com 60 réis. A tira tem margens de todos os lados e está levemente obliterada. O selo de cima tem um ligeiro adelgaçamento. Uma das jóias da coleção de Pack, considerada única. Uma peça maravilhosa (veja foto, prancha 29)”.
O valor estimado não estava mencionado, ficando em aberto. Este fato normalmente acontece, até nos dias de hoje, com as grandes raridades incluídas nos catálogos de leilões.
Após o leilão, a casa Harmer distribuiu a relação das peças vendidas com os respectivos preços alcançados e para o lote 824 constou o valor de US$ 6.250.00 (seis duzentos e cinqüenta dólares). Hugo Fraccaroli na crônica Conversa Fiada, publicada em Dezembro de 1944, no Brasil Filatélico, previa que a peça atingiria o preço mínimo de US$ 5.500,00, pois uma oferta partira do Brasil com esse valor, sem mencionar o nome do interessado. Em Março de 1945, o mesmo Hugo Fraccaroli, na mesma coluna, aponta que o valor da venda era equivalente a Cr$125.000,00 (cento e vinte e cinco mil cruzeiros).



Quinto Período – 1944 a 1954:


No ano de 1945 essa peça foi oferecida a alguns importantes colecionadores brasileiros, entre eles: Carlos Augusto Seabra e Niso Vianna. Este último, em suas reminiscências publicada no Brasil Filatélico afirma textualmente: “Foi em 1945 que compareceu no meu escritório um tal de Sr. Souren que me mostrou a peça e pediu 100 contos de réis. Este senhor era um jogador viciado e corria mundo. Quando ganhava dinheiro comprava selos e quando necessitava os vendia. Quando veio ao meu escritório, mal trajado e mal arrumado, a sua oferta me deu muita desconfiança; entretanto, durante nossa palestra, verifiquei que não havia qualquer trapaça de sua parte. Ele apresentou uma nota de compra legalizada e outros documentos que fizeram com que minha desconfiança desaparecesse. Como já disse, não comprei a peça porque o Figueiredo achou o preço muito alto”. Cem contos de réis na época eram equivalentes a US$ 5.000,00 (cinco mil dólares).
Estava desfeito o mistério, o verdadeiro proprietário do Terno era o Sr. Y. Souren, que o comprara no leilão da Harmer, Rooke & Co.



Sexto Período – 1954 a 1963:


A revista norte-americana Life, em edição espanhola de 5 de Julho de 1954, publicou importante reportagem sobre ‘Los Sellos mas Raros Del Mundo’, com oito páginas ilustradas e a cores. Em uma das páginas aparece a fotografia do Terno e sob a fotografia o preço de US$15.000,00 (quinze mil dólares). No texto, com o título de ‘La Crema de las mas Grandes Coleciones’, a seguinte informação: “43 – Brasil 1843, un par de 30 réis junto con uno de 60; testamentária de Y. Souren, Nueva Iorque”.
A revista Bahia Filatélica número 29, edição de Março de 1955, em artigo assinado por Edgard Teixeira dá conta da notícia oriunda da Associated Press da venda do Terno pela importância de quinze mil dólares feita pelo negociante de selos de Nova York, Sr. Robert Lyman.
O Sr. A. G. Santos enviou, em 16 de Maio de 1968, uma carta ao Sr. Robert Lyman, comerciante de selos de Boston, pedindo esclarecimentos a respeito. Na resposta, o Sr. Lyman afirmou textualmente: “...Comprei o Pack Strip do espólio do finado Y. Souren em Nova York. Atuando com negociante, vendi então a peça ao finado Manoel Galvez, de Madrid, que por sua vez a vendeu ao colecionador italiano Contini de Firenze. Com a dispersão do espólio de Contini, a peça foi adquirida pelo Dr. J. A. Almeida Dias, a quem você pode contatar para maiores informações”.
O Sr. Galvez era um importante negociante espanhol de selos, que falecera em 1960. O Sr. A. G. Santos enviou carta ao Dr. Almeida Dias, médico e colecionador de Lisboa, solicitando informações, mas nunca recebeu uma resposta. Tentou uma segunda vez, através de um amigo, portador da carta, e também ficou sem resposta.
Entretanto, durante a Exposição LUBRAPEX’72, em Aveiro - Portugal, Maurino Ferreira, grande expositor brasileiro da década de 70 e 80, recebeu a visita do Dr. Almeida Dias no hotel em que estava hospedado. Em meio à conversa lhe foi contado alguns detalhes de como o Pack Strip chegou às mãos do Dr. A. Dias. Maurino Ferreira publicou no jornal Diário de Notícias, de Belo Horizonte, do dia 2 e 3 de junho de 1985, um artigo sobre o assunto, onde diz textualmente em um dos trechos: “Com a morte do Conde Di Contini, os herdeiros entregaram-no à venda ao comerciante de Londres, Boajanowicht (polonês naturalizado inglês) e este vendeu-o ao Dr. J.A. Almeida Dias, em Londres, em junho de 1959, juntamente com um grande lote de excepcionais raridades, inclusive o grande bloco de 90rs Inclinado, papel grosso. Em 30 de novembro de 1962, o Dr. Almeida Dias vendeu o Pack Strip, juntamente com toda sua valiosa coleção, ao comerciante Michel, ou seja, para a firma Hamer Hooke, que, com ela, fez um grande leilão em Londres, em 1963”.
Em resumo, ficaram faltando apenas as informações da data da venda de Galvez a Contini e os valores monetários envolvidos em ambos os casos.
A partir de 1959 a coleção de selos do Dr. Almeida Dias esteve em várias exposições internacionais, sempre com a presença do Terno Xifópago. SICILIA’59, em Palermo, de 16 a 26 de Outubro, onde obteve a Medalha de Ouro e um Prêmio Especial. Na Exposição Internacional de BARCELONA’60, de 26 de Março a 5 de abril de 1960, recebendo a Medalha de Ouro e vários votos para o Grande Prêmio da exposição. Na LONDON’60 conquistou a Medalha de Ouro.



Sétimo Período – 1963 a 1969:


A empresa Harmer, Rooke & Co, de Londres, distribuiu o catálogo, em dois volumes (um de texto e outro de fotografias), do leilão de peças filatélicas da coleção Almeida Dias, que foi realizado nos dia 7 e 8 de Março de 1963. O Terno recebeu o número de lote 134 e estava assim descrito: “O famoso Pack Strip, compreendendo uma tira vertical de três selos, com exemplares de 30 réis (nºs 11 e 17) e um de 60 réis (nº 5), margens limpas de todos os lados, largas em três delas. O 30 réis superior tem um quase imperceptível adelgaçamento. Uma peça muito atrativa. Além de ser a única é uma das maiores raridades filatélicas do mundo, certamente também do Brasil (Fotografia)”. O preço estimado da peça foi estabelecido em £ 8.000 (oito mil libras inglesas).
Realizado o leilão, a peça alcançou a cifra de £ 8.250 (oito mil duzentos e cinqüenta libras), na época cerca de dezesseis milhões de cruzeiros. Em consulta do Sr. A. G. Santos ao Sr. Rolf Meyer, importante comerciante de selos radicado em São Paulo, datada de 28.8.1965, este esclareceu que a peça em referencia não fora realmente vendida, mas sim negociada internamente, pois era dado como vendida ao negociante inglês W. E. Lea. Esclarece ele: “acontece que a firma Harmer, Rooke & Co e o negociante Lea (salvo equívoco meu com relação ao Sr. Lea) fazem parte do grupo Stanley Gibbons. Portanto, a peça foi negociada internamente”.
Continua o Sr. Meyer: “Tempos depois do leilão, o Ferdinad d’Almeida adquiriu a peça em permuta de uma coleção de Hong Kong e mais outros selos, porém a peça permaneceu em Londres a fim de ser entregue após a conclusão da transação a pedido do próprio d’Almeida. O Sr. d’Almeida teve um problema de saúde e encontra-se gravemente enfermo, se bem que fora de perigo de vida. É provável que esta transação seja cancelada, o que está sendo tratado agora”.
Ferdinad J. d’Almeida, apesar de súdito britânico, nasceu em Hong Kong, motivo de sua especialização filatélica, era um conhecido colecionador radicado em São Paulo. Quando adoeceu, em meados de 1965, embarcou de maca para Londres, onde possuía também residência, objetivando a recuperação de sua saúde.
Outra carta dirigida pelo Sr. Áureo G. Santos ao comerciante Rolf Meyer, cuja resposta é datada de 22.3.1968, esclarece mais alguns pontos. Senão vejamos: “A peça foi vendida no leilão Almeida Dias ao negociante inglês Lea. Eis o que consta oficialmente e foi exposto no Stanley Gibbons Centenary Stamp Show como pertencente ao filatelista paulista Ferdinad d’Almeida. A transação não se concretizou, ou melhor, foi desfeita definitivamente depois da enfermidade deste filatelista que sofrera um ataque cerebral”.
No London Philatelist nº 871, edição de Julho de 1965, a Casa Stanley Gibbons fez publicar um anúncio publicitário de página inteira com a figura do Terno Xifópago. Em resumo, a venda dessa raridade para o Sr. d’Almeida nunca se concretizou e a peça permaneceu na propriedade da empresa Stanley Gibbons até 1969.



Oitavo Período – 1969 a 1986:


O catálogo de selos do ano de 1968, da casa filatélica Stanley Gibbons, em página inteira, intercalada no setor referente aos selos do Brasil, foi publicado um texto publicitário sobre o Terno, inclusive com a fotografia.
No ano seguinte, Stanley Gibbons promoveu um leilão internacional da coleção do eminente filatelista Lars Amundsen com selos clássicos da Europa, Ásia e América do Sul, entre os dias 5 e 7 de Fevereiro de 1969. Possuindo este catálogo em minha biblioteca filatélica, pude verificar que dentre as peças ofertadas estava incluído o Terno Xifópago, listado como lote número 185 e informando em seu texto descritivo a existência de Certificado da Royal Philatelic Society, datado de 1967. O catálogo apresenta os valores estimados em libras e dólares, ou seja, £8.000 e US$19.200 respectivamente. Assim, pode-se verificar que taxa de câmbio daquela época era US$2,40 por Libra Inglesa.
Assim procedendo, Stanley Gibbons deu a impressão que a raridade brasileira pertenceria ao famoso colecionador Amundsen. Na verdade não era o caso, era apenas uma grande jogada promocional. A peça neste período sempre pertenceu à casa inglesa de negociantes de selos.
O Terno foi vendido por £8.700 (oito mil e setecentas libras inglesas) e uma vez mais o negociante americano Robert Lyman, desta vez atuando como intermediário, envolvera-se no negócio, representando o famoso colecionador norte-americano Norman S. Hubbard, o verdadeiro comprador final.
O excelente conjunto de selos do Brasil do Sr. Hubbard composto de Olhos de Boi em pares, tiras e blocos novos e usados, além de muitas cartas, todas peças soberbas e entre elas o Terno Xifópago foi exposto na WIPA’81 e premiado com uma Medalha de Ouro Grande.



Nono Período – 1986 a 1994:


Durante a realização da Exposição Mundial AMERIPEX’86, nos Estados Unidos na cidade de Chicago, entre os dias 22 de maio e 1 de Junho de 1986, também se realizou um importante leilão internacional promovido pela empresa Robert A. Siegel Auction Galleries Inc. O evento teve lugar no Hyatt Regency O’Hare Hotel, no dia 25 de Maio, nos salões United A/B, onde foi leiloada a coleção ‘The Gordon N. John of Classic Brazil’. A casa filatélica Siegel produziu um belo catálogo com quarenta e seis páginas, capa preta e dourada e com fotos em preto e branco, exclusivo para os selos Olhos-de-Boi integrantes da referida coleção. Na capa a fotografia do famoso Terno Xifópago, que estava listado como o lote número 2024. Assim explicitava a descrição: “2024 – 30rs preto, par vertical em uma tira de três ‘se-tenant’ com 60 rs – o ‘Pack Strip’ (1A). Segunda chapa composta, Estado ‘D’, 30rs posições 11 e 17, 60rs posição 5. De larga para grandes margens. Duas linhas externas e linha central divisória entre o valor de 30rs inferior e o 60rs. Nítido carimbo ‘Correio Geral da Corte’ sem borda exterior de 1844, leves dobras são mencionadas apenas para constar, pois em nada diminui o valor deste Único Tesouro Filatélico considerado como sendo uma das dez maiores raridades do mundo, estando na mesma classe do ‘1p Magenta da Guiana Inglesa e da carta ‘Mauritius Post Office’, ex Pack, Almeida Dias, Amundsen. Valor Estimativo: US$250.000,00 a US$300.000,00”.
É evidente que a citação de Lars Amundsen como antigo proprietário da peça, como o fez Stanley Gibbons, no leilão de 1969, tinha apenas o objetivo de dar maior valorização ao Terno. Verdadeiramente nunca pertencera a ele. Assim também, comentava-se que o verdadeiro proprietário da peça até aquele instante ainda era o norte-americano Mr. Hubbard e não o que constava no catálogo sob o nome de Gordon N. John, sendo apenas um pseudônimo para efeito público.
Estive presente neste evento acompanhando o Sr. Ângelo Lima, já que éramos expositores na AMERIPEX e ele sempre tentara demonstrar que seu interesse pela famosa raridade era relativo. Durante as ofertas travou-se uma batalha de lances entre um agente comprador e o Sr. Peter Meyer, negociante de selos no Brasil e radicado em São Paulo. O agente levou a melhor pelo lance de US$250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil dólares). Alguns dias depois o Sr. Ângelo Lima, português de nascimento e brasileiro naturalizado por opção, industrial no Estado de São Paulo, eufórico e feliz, confidenciava-me que fora ele o comprador final. O Terno Xifópago deixara o exterior e radicava-se no Brasil, pela segunda vez, após 86 anos.
O Sr. Ângelo Lima tornou-se o maior expositor brasileiro de todos os tempos com sua coleção Brasil Império 1843-1866 e o maior campeão nacional, expondo internacionalmente pelo Brasil, senão vejamos: Grande Prêmio Internacional e Medalha de Ouro Grande na PHILEXFRANCE’89 e o Grande Prêmio da Classe dos Campeões na PHILANIPPON’91. Além de duas Medalhas de Ouro Grande em anos anteriores a 1989.



Décimo Período – 1995 a 2008:


Após obter os dois galardões máximos da filatelia internacional, O Grande Prêmio Internacional e o Grande Prêmio da Classe dos Campeões o Sr. Lima decidiu vender sua coleção. A empresa leiloeira escolhida foi David Feldman S/A. Em 1993, o Terno Xifópago do Sr. Lima foi apresentado ao mercado filatélico no catálogo nº 3, relativo à América Latina, produzido por David Feldman S/A, à pagina 11 e sob o número de lote 30045, que assim explicitava: “30rs par vertical em uma tira de três ‘se-tenant’ com 60 rs – o famoso ‘Pack Strip’ da segunda chapa composta, Estado ‘D’, 30rs posições 11 e 17, 60rs posição 5. De larga para grandes margens. Duas linhas externas e linha central divisória entre o valor de 30rs inferior e o 60rs, Obliterado duas vezes pelo ‘Correio Geral da Corte’ sem borda exterior de 1844, leves dobras apenas mencionadas para constar. Charles Lathrop Pack (1857-1937) foi o maior comprador dos leilões da coleção Ferrari e formou notáveis estudos especializados dos selos clássicos do mundo. Sua coleção do Brasil foi uma legenda durante toda a sua vida. Esta tira ‘se-tenant’ ganhou fama sendo reconhecida como a mais espetacular peça de toda a coleção Pack e tornou-se aceita como sendo uma das dez maiores raridades do mundo em toda a filatelia. Claramente a mais importante peça do Brasil e da América do Sul. Ex Pack, Almeida Dias, Amundsen. Valor Estimativo: Sfr 1.000.000,00”.
Novamente vemos o nome de Amundsen citado como antigo proprietário dessa peça. Nada a ver. O resultado do leilão dado a conhecer em lista fornecida aos interessados apresentava como vendida pelo preço estimado, ou seja, um milhão de francos suíços. Na verdade a raridade não fora vendida e, posteriormente, o mercado filatélico internacional deixou circular a informação de que o Terno Xifópago, em negociação de trato privado com a casa leiloeira, no ano de 1995, voltara para as mãos de seu antigo dono, o norte-americano Norman S. Hubbard. Os detalhes do negócio, até os dias de hoje, continuam envolvidos em brumas e sem confirmação oficial, entretanto, sabe-se através de comentários da comunidade filatélica internacional que o Sr. Hubbard pagou a importância de US$ 650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil dólares) pela Tira Pack, além de também ter comprado por mais um apreciável volume financeiro outras lindas e importantes peças da filatelia brasileira da ex-coleção do Sr. Lima, tais como: a quadra nova do 300rs Inclinado; um bloco de 18 selos do 90rs Olhos-de-Boi + um olho-de-boi de 60rs sobre um grande fragmento obliterado com o carimbo do Rio Grande do Norte; bloco de 6 usado do 180rs Inclinado e uma quadra nova de 600rs Inclinado.
Infelizmente e uma vez mais o PACK STRIP deixou o Brasil.



Décimo Primeiro Período - 2008 em diante:


Em 5 de junho de 2008 a empresa Siegel Auction Galleries, Inc, situada em Nova York, informou a venda, através de leilão público, da Coleção Islander de selos brasileiros. O Terno Xifópago fez parte da venda, recebendo o número 17 no belo catálogo produzido e foi arrematado pelo preço recorde de $1.900.000 (mais 15% de comissão paga ao leiloeiro pelo comprador). Foi de longe o maior preço alcançado por uma peça filatélica da América Latina e o comprador final permaneceu no anonimato. Segundo uma fonte interna o negociante americano Irwin Weinberg comprou cerca de 20% dos lotes da coleção Islander. Para algumas outras fontes o comprador seria um investidor, outras fontes informam que, na verdade, o Terno Xifópago não foi vendido e ainda permanece nas mãos do proprietário da Coleção Islander, o norte-americano Sr. Norman S. Hubbard. Uma terceira fonte informa que o item for realmente vendido em razão de ter havido uma oferta de $ 1.8 M do Sr. Armand Rousso, que estava presente na sala de leilão, sendo seu lance coberto por um ofertante ao telefone que deseja, por hora, permanecer anônimo.

O mistério da localização desta peça maravilhoza, permanece cheia de questões, mas como tudo reaparece um dia.......



Descrição:

Par vertical de 30 rs + 60 rs “se-tenant” – Olhos-de-Boi – Chapa 2 composta, Estado D (chapa regravada). Os selos de 30 rs nas posições 11 e 17 do painel superior da folha e o 60 rs na posição 5 do painel intermediário. Obliterado com dois carimbos pretos do Correio Geral da Corte (PA.1185), mal batidos com a data de 16.??.1844 (o mês parece ser: 06). Peça lavada, apresentando a margem direita curta, a inferior normal e as margens esquerda e superior são largas. O selo superior tem um ligeiro “aminci”.


“UMA DAS MAIORES RARIDADES DA FILATELIA BRASILEIRA E DA AMÉRICA LATINA. ÚNICA”.





 

Principais Fontes: Senhor Paulo Comelli e A filatélia Brasileira (Fefibra).




 
3-) Gemeos Xifopagos: Dois Pares ou Uma quadra? Uma joia da filatelia brasileira: Os "Interpanneau"

Viagem de uma maravilhosa raridade
 



 

Primeiro Período - 1950 a 1974
 

 
Hugo Fraccaroli, em artigo específico sobre essa raridade, publicado no Brasil Filatélico nºs 167/168, do ano de 1974, conta que a peça foi descoberta pelo conhecido filatelista Luiz Figueiredo Filho, residente em São Vicente, cidade perto de Santos, no ano de 1950, "quando estava examinando um conjunto de selos do Brasil, encontrou um par vertical do Olho de Boi de 30 réis. Continuando a verificação, encontrou mais adiante outro par igual ao primeiro e logo desconfiou que tinha sido cortado do outro. Comprou os dois pares, juntou-os e verificou que sua suspeita era verdadeira. Tratava-se de uma quadra que, por qualquer motivo, tinha sido cortada em dois pares verticais".
Continua ele: "Esta peça, na ocasião, foi adquirida pelo famoso filatelista Niso Vianna e, no momento, se encontra em poder da sua viúva".
O Sr. Niso Vianna (falecido em 1971), em suas reminiscências, publicadas no Brasil Filatélico, nºs 141/142, do ano de 1964, conta a história ligeiramente diferente, dando a informação onde o Luiz Figueiredo comprara a peça, senão vejamos: "De todas as minhas compras, a que reputo mais interessante e valiosa foi feita por intermédio do Figueiredo Filho, que adquiriu na casa filatélica Coda (O grifo é do autor), Rio de Janeiro. Foi uma quadra do Olho de Boi do 30 réis, mostrando um espaço de 10 milímetros entre os selos, o que veio a comprovar a existência de uma chapa que não era conhecida por Napier, isto é, uma chapa igual a primeira com selos dos três valores, entretanto, com selos de um valor só, o de 30 réis; não se conhece até hoje peça igual. Paguei por ela Cr$ 1.500,00 (mil e quinhentos cruzeiros)". Este valor representava US$ 250,00 (duzentos e cinqüenta dólares) ao câmbio da época.
Niso Vianna, na época em que não existia a medalha de ouro grande, participou de muitas exposições internacionais e obteve várias Medalhas de Ouro: EXFIRA'50, em Buenos Aires; LISBOA'53, em Portugal; FIPEX'56, em Nova York, EFIMAYO'60, em Buenos Aires, onde obteve também o Grande Prêmio da exposição.


 
Segundo Período - 1974 a 1985

 
Na LUBRAPEX'74, realizada em São Paulo, a peça foi mostrada, pela primeira vez, na coleção do Sr. Reinaldo Bruno Pracchia.
Com o objetivo de apurar como essa raridade fora parar na coleção do Sr. Pracchia, decidi recorrer à memória do ainda comerciante filatélico de São Paulo, Rolf Harald Meyer, legenda viva da história filatélica do Brasil, a partir dos anos quarenta.
Fiz-lhe uma ligação telefônica, em março de 2002, buscando esclarecer esse fato obscuro da venda efetuada pela viúva do Sr. Niso Vianna. A iniciativa foi coroada de êxito e muito gentilmente o Sr. Meyer contou: "que a viúva encarregara o Sr. Itamar Bopp (outro importante colecionador paulista, já falecido) de vender as coleções de Olhos de Boi e D. Pedro que fizeram, por muitos anos, a alegria da vida do Sr. Vianna".
Continuou o Sr. Meyer: "O Bopp vendeu pouco tempo antes da LUBRAPEX'74 a coleção inteira dos Olhos de Boi do Sr. Vianna para o Sr. Pracchia por dois milhões de cruzeiros e guardou para si a de D. Pedro". O valor este equivalente à época a US$ 290.000,00 (duzentos e noventa mil dólares). Comentários da época dão conta que a viúva do Sr. Niso Vianna não ficou muito satisfeita com a jogada comercial do Sr. Itamar Bopp.
O Sr. Pracchia obteve os mais importante prêmios da filatelia brasileira até aquela data. No circuito internacional ganhou as três Medalhas de Ouro Grande que lhe deram direito a passar a expor na Classe de Campeões FIP, entre elas: ESPAÑA'75 em Madrid, ARPHILA'75 em Paris. No ano de 1980 alcançou o prêmio maior, "Grande Prêmio da Classe do Campeões" na LONDON'80.
Em 1986, o Sr. Pracchia vendeu sua coleção completa dos "Numerais do Império" para a casa de leilões internacionais de selos "Habsburg, Feldman S/A", sediada na Suíça pela soma de US$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil dólares) pagamento este efetuado à vista. No conjunto estavam incluídos os "Pares Interpanneau".



 

Terceiro Período - 1986 a 1994


 
O leilão da "Coleção Amazonas", assim titulada por David Feldman, realizou-se em Zurich, entre os dias 16 e 21 de novembro de 1987. Foi produzido um catálogo exclusivo para esta coleção e o "Interpanneau" foi capa do catálogo e listado como o lote número 60.009. Em parte da descrição constava: "Estes dois pares de 30 réis são também os únicos existentes. A peça máxima desta coleção e crível como a mais valiosa da filatelia brasileira". A estimativa de valor era de "SFr200.000,00" (duzentos mil francos suíços).
Compareci, pessoalmente, a este leilão para tentar comprar peças para minha coleção e recebi a incumbência do amigo Ângelo Lima, que muito me honrou, para comprar várias peças para sua coleção de numerais do Império.
A seleção de peças por ele fornecida representava a nata da Coleção Amazonas. Cumpri a tarefa com galhardia, pois tudo que o Sr. Lima desejava comprar consegui com lances vencedores em seu nome. Posso citar: "o bloco de 6 (3x2), usado, do 180 réis Inclinado" e o "Painel completo, usado, de 18 (6x3) selos do Olho de Boi de 90 réis, carimbo Correio Geral da Corte", dentre outras peças.
Entretanto, a tarefa mais importante foi adquirir, após uma batalha de lances sucessivos, o "Interpanneau" pelo lance maior de SFr220.000,00 (duzentos e vinte mil francos suíços), equivalentes, à época, aproximadamente ao valor de US$ 100.000,00 (cem mil dólares).
O Sr. Ângelo Lima, português de nascimento e brasileiro naturalizado por opção, industrial no Estado de São Paulo, tornou-se o maior expositor brasileiro de todos os tempos com sua coleção "Brasil Império 1843-1866" e o maior campeão nacional, obtendo os dois maiores galardões expondo internacionalmente pelo Brasil, quais sejam: Grande Prêmio Internacional e Medalha de Ouro Grande na PHILEXFRANCE'89 e o Grande Prêmio da Classe dos Campeões na PHILANIPPON'91. Além de duas Medalhas de Ouro Grande em anos anteriores a 1989.



 
Quarto Período - 1995 em diante


 
Depois ter obtido os maiores prêmios internacionais, o Sr. Lima, em 1993, decidiu vender sua coleção e após um acerto comercial entregou a coleção à casa de leilões "David Feldman S/A, sediada em Genebra, Suíça. O acordo inicial previa a venda por leilão público, o que posteriormente terminou em venda fechada, recebendo o Sr. Lima a impressionante soma de mais de dois milhões de dólares por todo o seu acervo de selos das primeiras emissões do Brasil, incluindo os D. Pedros.
David Feldman promoveu, entre 1 e 6 de novembro de 1993, um leilão com um volume expressivo das peças da Coleção Lima, entretanto, das peças importantes apenas o "Pack Strip" foi apresentado, ou seja: ali não estavam a "Carta de Belo Horizonte" e nem o "Interpanneau".
No inverno europeu de 1995, no mês de janeiro ou fevereiro, estava o Sr. Hugo Goeggel, suíço de nascimento, importante industrial colombiano, radicado em Santa Fé de Bogotá, passando férias em uma estação de esqui, na Suíça, quando recebeu uma ligação telefônica do Sr. Feldman oferecendo várias peças da coleção do Sr. Lima e entre elas o famoso bloco "Interpanneau". O negócio foi fechado por telefone e a cifra alcançou o valor de US$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil dólares) para todo o lote. O "Interpanneau" foi vendido pelo preço de US$ 200.000,00 (duzentos mil dólares).
A partir desta data o "Interpanneau" passou a pertencer à espetacular coleção de Olhos de Boi do Sr. Hugo Goeggel. Além da coleção do Brasil, O Sr. Goeggel possui as melhores coleções, até hoje montadas, das primeiras emissões da Colômbia e do Equador, sendo, atualmente, considerado o maior colecionador de todos os tempos da Colômbia e o maior colecionador da atualidade da América do Sul. Detentor de várias medalhas de Ouro Grande com todas elas.
Com a coleção da "Primeira Emissão do Brasil" já obteve três Medalhas de Ouro Grande, sendo uma na "BRASILIANA'93", sem o "Interpanneau", e mais duas, já com presença da famosa raridade: uma na PACIFIC'97 e outra MOSCOW'97.


 

Descrição:

 
30 réis Olho de Boi. Dois pares verticais ajuntados (originalmente um Bloco de 4 selos), Chapa 3 de 54 selos do 30 réis, Estado A, posições 15 e 16 do painel superior e posições 3 e 4 do painel intermediário. Obliterado com carimbo "Correio Geral da Corte - 26.??.1845". Peça que comprovou a existência da Chapa Múltipla, de 3 (três) painéis de 18 selos cada, do valor de 30 réis Olho de Boi. Imperfeições de pequenas conseqüências, selo inferior esquerdo tocado na linha inferior do quadro, margem lateral direita curta e as demais boas. Dobra vertical no par direito.






Principais Fontes: Imagens e algumas definições tiradas do site do Senhor Paulo Comelli e da revista "A filatélia Brasileira (Fefibra)".







IIB-) Os Sémi-xifopagos









 
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